Segundo dados do Sebrae, setor tem mais de 500 empresas ativas e a maioria está registrada como pequeno negócio. Conheça histórias de mulheres que aliaram empreendedorismo e respeito aos animais de estimação. Médica veterinária Juliana Buzolin investe em brinquedos e espaços para ampliar creche de cães
Djavan Barbosa/Jornal do Tocantins
Os donos de animais domésticos estão cada vez mais interessados em tratar os pets como verdadeiros filhos. Isso tem feito aumentar a procura para creches ou pet sitters - babás de cães e gatos - , seja diariamente ou enquanto os donos precisam ficar longe dos animais por um curto período.
De acordo com dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Tocantins), a tendência de crescimento no setor é de quase 60%, ou seja, esse tipo de negócio está em ascensão no Tocantins.
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A médica veterinária Juliana Buzolin identificou que um negócio voltado ao cuidado diário de animais poderia trazer inovação para Palmas. Há 10 anos, ela resolveu não investir somente em um petshop e clínica, mas em um serviço de creche para animais. Na época era novidade e a procura começou tímida, mas atualmente quase 60 cães frequentam a 'escolinha' semanalmente, com direito a boletim no fim do ano.
A ideia é que os tutores deixem os pets durante algumas horas do dia em um espaço que possam aprender a socializar, gastar energia e voltar para casa renovados, sem estresse ou ansiedade. Mas até chegar nesse formato foi preciso muito estudo sobre o mercado, comportamento animal e empreendedorismo.
"Não existia esse serviço no Tocantins. Em Palmas, então, nem se falava. O tipo de hospedagem que tinha era com os animais todos presos em canis, com a retirada só para comer, beber e fazer as necessidades. Não se pensava nesse formato em colocar os animais todos juntos. A ideia era trazer algo inovador, mas que tivesse benefícios para os animais, que gerasse qualidade e bem-estar", relembrou.
Para além da questão voltada ao conforto dos pets, Juliana explicou que também buscou consultorias especializadas na questão do negócio e teve apoio do Sebrae nessa etapa.
"Primeiro procurei o Sebrae pra fazer a parte de montar o negócio em si. A gente montou um plano de negócio e o Sebrae deu todo apoio. Fui buscar consultoria, eu fiz uma pós em comportamento animal, porque essa questão de soltar os cães todos juntos é arriscada, não é fácil. Você tem uma série de coisas como instinto, habilidades, comportamentos, temperamentos diferentes. Então isso tem que ser feito com técnica", explicou.
Juliana estudou o comportamento animal para dar esse passo nos negócios
Djavan Barbosa/Jornal do Tocantins
A montagem da creche também foi pensada de forma diferenciada, segundo a veterinária, porque a estrutura deve atender parâmetros.
"A creche tem um objetivo, não é simplesmente você tirar o cachorro de casa e vir para cá. Você tem que trabalhar a socialização desses animais, a habilidade deles, proporcionar oportunidades de manifestação de comportamentos próprios da espécie. A gente vem perdendo isso porque causa da humanização", afirmou Juliana, explicando ainda que na concepção do serviço de creche, inclui-se um estudo comportamental sobre os animais que serão recebidos.
Para conseguir 'matricular' o cão, ele precisa passar por uma avaliação para saber se conseguirá interagir com os outros animais, até para conseguir incentivar isso dentro da creche. "Mas para ensinar é preciso respeitar o tempo e o medo dele, e não dá para chegar e fazer um 'tratamento de choque', colocar ele com um monte de animais. Isso tem que ser gradativo", completou.
Após uma entrevista com o tutor, o cãozinho passa por um período de avaliação para ver se ele tem condições de ficar na creche. Se não apresentar sinais de reações agressivas em grupo, poderá ser incluído, informou a veterinária.
Aceitação
Sobre a aceitação do público com o negócio, Juliana relembrou que muitas pessoas acreditavam que o serviço de creche seria 'supérfluo'. "Foi meio desbravador, a gente teve que abrir um campo, criar isso e conscientizar as pessoas de que era importante. As pessoas quando viam que o cachorro destruía um sapato caríssimo, um sofá caríssimo, traziam aqui para a creche".
Para a especialista em comportamento animal, no começo as pessoas levavam os cãezinhos para passar algumas horas com o intuito de tentar fazer com que eles gastassem energia e não 'aprontassem' dentro de casa. Mas ao longo do tempo e com os trabalhos desenvolvidos pelos monitores, os clientes conseguiram ver comportamentos diferentes e isso ajudou a o negócio.
"Hoje as pessoas conseguem perceber que gera bem-estar, que gera qualidade de vida. Esse contato com outros animais também é benéfico porque aumenta a imunidade", disse.
Para manter toda uma estrutura que atende quase 60 cães semanalmente, Juliana investe na creche e faz cursos em entidades voltadas ao empresariado para melhor atender os pets e os tutores. "Hoje temos uma piscina rasa e eles adoram. Temos vários brinquedos e sempre vamos botando brinquedos novos. E a gente tem sempre que criar locais que proporcionem sombra. Temos que fazer treinamento de funcionários também, então estamos sempre investindo ou em pessoal ou em estrutura", afirmou a empresária e veterinária.
"A responsabilidade que a gente tem é que não é simplesmente o cachorro, é o amor de uma pessoa. Costumo dizer que não tenho um paciente, tenho o amor de alguém. Então eles precisam ser cuidados", completou.
Na creche, os cães aprendem a socializar, diz veterinária Juliana Buzolin
Djavan Barbosa/Jornal do Tocantins
Dedicação que dá certo no estado
De acordo com o Sebrae, o Tocantins tem atualmente 548 empresas ativas que trabalham com higiene e embelezamento e também alojamento de animais domésticos. Desse total, 99,4% se enquadram como pequenos negócios.
O setor está em ascensão no estado e para os próximos anos, a taxa de tendência de crescimento deste setor é de 58,39%, conforme a instituição.
Do total, 221 empresas estão em Palmas e apenas uma não está dentro de pequenos negócios. Em Araguaína, são 80 empreendedores voltados aos cuidados de animais de estimação. Já no sul do estado, em Gurupi, são 34 pequenos negócios que também se dedicam aos cuidados de 'pets'.
De protetora à babá pet certificada
Se um tutor precisa viajar e não tem com quem deixar os 'filhos' de quatro patas, em Palmas já existe o serviço de pet sitter, uma babá para animais de estimação. A estudante de medicina veterinária Yana Coelho, de 29 anos, se especializou nessa profissão, que atualmente é sua principal fonte de renda.
Ela se tornou microempreendedora individual (MEI) e começou prestar o serviço há seis anos, mas a ligação com os animais começou quando ainda era criança. "Cresci em uma casa cheia de bichinhos. E antes de ser pet sitter eu era protetora e já tinha fundado o projeto Vira-Lata e uma ligação muito forte com os animais. As pessoas viam o meu cuidado e uma delas me sugeriu para virar pet sitter", contou.
Yana Coelho trabalha como pet sitter há seis anos
Arquivo pessoal
Na época, ela não conhecia a profissão e resolveu estudar para saber como funcionavas essa área. Assim, ela descobriu que poderia trabalhar cuidando dos animais como uma babá, levando-os para passear, alimentando e até limpando os espaços quando os donos não estão presentes.
Foram muitos desafios nos últimos anos, mas para a jovem, uma das dificuldades em empreender estavam as poucas formas de se especializar.
"Empreender nunca é fácil. Eu sempre fui empreendedora desde pequena, sempre mexi com vendas, comunicação com o cliente e empreender é sempre um desafio. Quando eu comecei no pet sitter, há seis anos, não existia cursos, não existia muito sobre o que era esse trabalho. No começo eu via muitos vídeos e tentava buscar o máximo de conhecimento para que eu conseguisse trazer para Palmas essa realidade", relembrou.
Outra dificuldade que Yana ainda precisa lidar é fazer com que as pessoas respeitem a profissão. "É uma profissão de muita responsabilidade, você tem que levar à sério o que está fazendo porque algumas pessoas acham que é um bico. Para mim não é um bico, é a minha profissão", defendeu.
Yana ainda acredita que, como todas as áreas, é necessário estar em constante atualização.
"Com mais acessos, eu me profissionalizo, eu faço cursos. Hoje sou pet sitter certificada, tenho curso de cat sitter e sempre me atualizando, estou com cursos em andamento e vou participar de palestras. Como toda profissão, você precisa se atualizar. Algumas pessoas acham que é só catar cocô, é só limpar caixa de areia do gato, é só passear com o cachorro, e não é. Eu sempre falo que vai muito além disso, é você entregar um trabalho de excelência para meu cliente", afirmou.
Como 'babá' de pets, Yana também se especializou em cuidar de gatos
Arquivo pessoal
Trabalhando de forma autônoma como MEI, Yana explicou que consegue se organizar mensalmente para atender os clientes e possui uma agenda virtual, em que disponibiliza os dias horários para os clientes que precisam do serviço de pet sitter.
Por ter essa organização, consegue determinar os dias de trabalho e folga, situação que ela considera uma vantagem como empreendedora.
Para o futuro, Yana quer focar no bom atendimento aos bichinhos e seus donos. "É crescer, ser cada vez melhor e entregar um bom resultado para meus clientes".
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Publicada por: RBSYS