Economista virou uma referência do pensamento desenvolvimentista no Brasil, defendendo uma intervenção maior do Estado na economia para estimular o crescimento do país. Maria da Conceição Tavares
Jornal Nacional
A economista e escritora Maria da Conceição Tavares morreu hoje aos 94 anos em Nova Friburgo, na região Serrana do Rio.
Numa época em que as mulheres não tinham espaço no círculo de poder, Maria da Conceição Tavares já era ouvida.
"Coisa da maior complexidade, não é pra chutar qualquer besteira que vem na cabeça de qualquer deputado a pretexto de fazer média com a opinião pública."
Maria da Conceição Tavares estudou matemática em Portugal e chegou ao Brasil em 1954, fugindo da ditadura salazarista. Se naturalizou brasileira e fez economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde mais tarde deu aula. Também foi professora na Unicamp e em universidades estrangeiras.
Maria da Conceição Tavares teve cargos importantes no BNDES. Hoje, o presidente do banco lamentou a morte da professora e amiga.
"É uma intelectual de muita coragem, dignidade, transparência. Ela é uma referência obrigatória para os jovens economistas que estão chegando."
Maria da Conceição Tavares trabalhou na comissão econômica para a América Latina e o Caribe da ONU. Foi presa pela ditadura, em 1974, e solta poucos dias depois.
"Morrerei não sei se numa crise como nasci, mas seguramente numa democracia, coisa que não foi o caso quando nasci."
Maria da Conceição Tavares escreveu diversos artigos e livros, que trouxeram análises profundas sobre a economia brasileira e suas transformações. Ela virou uma referência do pensamento desenvolvimentista no Brasil, defendendo uma intervenção maior do Estado na economia para estimular o crescimento do país.
"Nós precisamos de inclusão social, de melhoria de distribuição e de infraestrutura."
Nos anos 1980, ela foi um dos principais nomes da assessoria econômica do PMDB, e se emocionou diante das câmeras falando sobre o Plano Cruzado, quando o governo congelou os preços para tentar frear a inflação.
A economista foi eleita deputada federal pelo PT, em 1994, seu primeiro e único mandato, e foi uma das vozes mais críticas ao Plano Real.
Hoje o presidente Lula publicou uma foto com a professora e escreveu:
"Foi uma economista que nunca esqueceu a política e a defesa de um desenvolvimento econômico com justiça social."
Publicada por: RBSYS