A Universidade do Vale do Rio dos Sinos trabalha na restauração de fotografias danificadas na enchente. No Rio Grande do Sul, voluntários ajudam famílias a recuperar memórias de uma vida inteira
Voluntários estão ajudando famílias gaúchas a recuperar memórias de uma vida inteira.
A casa da família da atriz e produtora cultural Carol Martins ficou mais de 20 dias embaixo d’água no bairro Humaitá, em Porto Alegre. Entre pedaços de um armário destruído, ela encontrou o que tanto procurava.
“Quando eu entrei na casa pela primeira vez, o meu objetivo principal era encontrar a caixa das fotos”, conta.
A família distribui entre os amigos os álbuns que conseguiu recuperar.
“Foi muito lindo, porque eu realmente confiei nessas pessoas e eu recebi um retorno muito amoroso das pessoas. Ao mesmo tempo que eu agradeci por elas estarem me ajudando, elas também me agradeceram por eu confiar nelas”, diz Carol Martins.
O mutirão salvou relíquias de família, como a única foto da bisavó. Um trabalho minucioso cheio de afeto.
“Fiz como se fossem minhas. A gente fica bem emocionada, porque fala um pouco da gente também”, afirma a bailarina Renata Teixeira.
A Universidade do Vale do Rio dos Sinos também trabalha na restauração de fotografias danificadas na enchente.
“Eu recomendo não usar nenhum tipo de produto químico, colocar só na água fria. As imagens todas vêm grudadas. Deixar elas ali soltando naturalmente e deixar na água e passando de uma bandeja para outra, dependendo do qual sujo ela está. E ir transferindo em várias bacias até que a última bacia lá fique com a água mais clarinha, já está no ponto de levar para a área de secagem”, explica Márcia Molina, professora da Unisinos.
Depois de limpas, as fotografias foram colocadas lado a lado. Uma linha do tempo que preserva memórias de aniversários, casamentos ou uma simples tarde em família. Lembranças carregadas de sentimento, que levam a um passado de normalidade que os gaúchos agora querem retomar.
“A memória, aquilo que está nas fotos, aquilo que está nos livros, aquilo que as pessoas valorizam, tem que ser resgatado dentro do possível e com a ajuda de todos fica bem mais fácil”, diz a professora universitária Marcia Dutra Barcellos.
Sentimento que se espalha pelo Rio Grande do Sul. A fotógrafa Franciele Locatelli, de Lajeado, viu a região ser novamente devastada pela água. Em setembro de 2023, ela compartilhou orientações pelas redes sociais. Agora, mais uma vez, ajuda a recuperar as fotografias.
“Dói tu ver aquilo ali. Então, eu pensei assim: é uma forma de tentar realmente ajudar aquela pessoa”, conta Franciele Locatelli.
Uma forma de dar força para quem precisa recomeçar.
“Por mais que doa, que algumas delas não vão se recuperar ou estão manchadas, mas poder rever de novo essas imagens e poder viver um pouco esse momento, porque as fotos têm esse poder. Assim como os livros, as fotos te levam a uma viagem no tempo”, afirma Marcia Dutra Barcellos.
“São fotos que contam muitas histórias. Agora, mais do que nunca. Contam a história dessa enchente que vai ficar para sempre. E quando eu vejo que elas têm alguns danos nas bordas, principalmente, algumas no meio, algumas mais graves, outras menos, eu olho e penso: Tá, tudo bem. É a história dessa foto. Não é só mais a história das pessoas que estão nas fotos, mas a história desse material, dessa memória que teve uma tragédia que afetou ela. São como cicatrizes”, diz a atriz e produtora cultural Carol Martins.
Publicada por: RBSYS